segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Prodígio Euclidiano


Estudante da rede estadual de Cantagalo-RJ ganha destaque por realizar belo trabalho de difusão da memória do escritor e acadêmico Euclides da Cunha

O jovem prodígio Matheus Muniz Guzzo, de 15 anos, aluno do Colégio Estadual Lameira de Andrade, de Cantagalo-RJ, desponta como uma liderança cultural na escola e na cidade. Isso porque ele tem realizado dois belos trabalhos em torno do nome do escritor Euclides da Cunha, nascido também na cidade do Centro-Norte fluminense: a proposta de um curso de extensão para os alunos do 5.o ano do colégio Estadual e o projeto de um livro sobre suas experiências euclidianas.

Na escola de Matheus é desenvolvido o projeto “Euclides da Cunha: base para a educação social”. Coordenado por duas professoras, desde outubro Matheus dedica uma hora da semana a ensinar o euclidianismo aos alunos do quinto ano do Ensino Fundamental. A iniciativa nasceu do sucesso de sua participação no Seminário Internacional - 100 anos sem Euclides, realizado em parceria com a Academia Brasileira de Letras (ABL), ao qual compareceram ilustres figuras da literatura nacional e internacional, como Ariano Suassuna, Leopoldo Bernucci (Universidade da Califórnia) e Berthold Zilly (Universidade de Berlim).

Por conta da repercussão de seu trabalho, o projeto 100 anos sem Euclides apresenta aqui uma breve entrevista para melhor apresentar a jovem surpresa do Seminário Internacional realizado em setembro:

1- Sua posição como promotor da educação através da memória de Euclides da Cunha entre outros jovens como você é admirável. Quais influências você considera importantes para esta sua tomada de postura?

R.: Com absoluta certeza, a maior influência na minha vida, em relação à Euclides da Cunha, foi o Projeto 100 Anos Sem Euclides. Através dele, fui posto a ver, verdadeiramente, a tamanha importância que Euclides tem para o Brasil, pois, foi com as ações do Projeto que eu iniciei a caminhada, sempre em busca de maior conhecimento em relação ao meu conterrâneo Euclides da Cunha.

2- Quando você tomou conhecimento da obra de Euclides da Cunha? Com que idade? R.: Tomei conhecimento da obra de Euclides da Cunha na minha infância, quando o Colégio em que eu estudava me levou para a acolhedora Casa de Euclides da Cunha, aqui em Cantagalo. E, foi a partir daquele momento, que eu conheci o “famoso escritor de Cantagalo: Euclides da Cunha”.


3- A juventude está acostumada a leituras, digamos, mais acessíveis, por conta da facilidade dada pelos meios modernos de comunicação. A obra Quatro Cantos de Euclides, do poeta Thiago Cascabulho, pode servir de ponte entre esse leitor e a obra de Euclides, considerado um autor de difícil acesso?

R.: A emocionante obra do jovem poeta Thiago Cascabulho, é uma forma muito boa de analisarmos Os Sertões. No meu Projeto “Euclides da Cunha: Base para a Educação Social”, eu desenvolvi uma aula sobre esse livro, e, mais do que esperado, os alunos se encantaram pelos cantos e alcançaram maior conhecimento sobre Os Sertões.

4- Você se considera um leitor assíduo? Qual(is) obra(s) te causou(aram) maior impacto? Por quê?

R.: A obra que me causou maior impacto foi o magnífico Os Sertões, em virtude da leitura difícil para um jovem, mas analisando fragmentos da grandiosa, percebi a brilhante forma de um brasileiro caracterizar o ambiente, o homem fruto da terra e as situações vividas. Basta isso para se encantar com Euclides da Cunha.

5- Em seu projeto, você destaca a importância de Euclides da Cunha para a vida social dos jovens. Fale um pouco sobre isso.

R.: Quando me propus a desenvolver um Projeto sobre Euclides, foi para partilhar do que aprendi: quando conheço um exemplo de cidadão, nele posso me empenhar para ser reflexo e trabalhar para um Brasil melhor.

6- Euclides escreveu sobre a Amazônia e a exploração sem planejamento dos recursos naturais. Esse tema pode ser um bom chamariz para dar visibilidade, entre os jovens, a outras questões levantadas pelo autor. Comente a escolha dessa faceta do escritor em seu plano de aulas.

R.: É necessário explicar às nossas crianças a responsabilidade que elas têm quanto ao futuro ambiental do mundo, em especial do Brasil. Para isso, fica muito inovador explicá-las que um homem há muito tempo já via problemas na Amazônia. A partir daí, perguntamos: Com a expansão do desmatamento, como ficará a nossa Amazônia num futuro recente? Pensemos.

7- Você se propõe a resgatar a importância da se valorizar as origens da cidadania cantagalense por meio da memória de um ilustre cidadão: Euclides. Esse tipo de ação tem a função de elevar a autoestima das gerações em formação. Que fatores podem ser considerados, a seu ver, promotores da baixa autoestima por parte da juventude cantagalense?

R.: Um fator promotor da baixa autoestima é saber que moramos num lugar que não é conhecido culturalmente no nosso país. Isso não é verdade! Se as gerações em formação se conscientizarem que temos uma ponte para alcançarmos reconhecimento nacional e mundial, elas terão o orgulho de morarem em nossa “terra de belezas e encantos mil”, o berço da ponte para o reconhecimento social, que é Euclides da Cunha!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sessão Solene de Encerramento do Ano Nacional de Euclides


A Camara Municipal de Cantagalo e o Grupo Euclidiano de Atividades Culturais realizam sessão solene de encerramento do Ano Nacional de Euclides da Cunha e em comemoração aos 107 anos de lançamento do livro Os Sertões. O evento acontecerá no dia 02/12, às 19h30, na praça João XXIII, no centro da cidade de Cantagalo/RJ, onde o escritor homenageado nasceu.

O evento será conduzido por Ciro Fernandes Pinto, presidente da Câmara de Cantagalo e promete mobilizar a comunidade cantagalense, principalmente as escolas. A programação conta com música, apresentação teatral e com a presença de trovadores, além dos discursos das autoridades e do orador da noite, Dr. Júlio Carvalho, que falará sobre o nacionalismo de Euclides da Cunha.

Segundo os organizadores, haverá ainda algumas surpresas durante o evento para o publico presente.A sessão solene acontecerá no dia 02 de dezembro, às 19h30, na praça principal da cidade de Cantagalo-RJ.

sábado, 21 de novembro de 2009

Projeto 100 Anos Sem Euclides na Câmara Municipal de Niterói

Participantes e apoiadores do Projeto Cultural 100 anos sem Euclides no plenário do palácio legislativo de Niterói-RJ

Coordenador do projeto preside sessão solene em homenegem a Euclides da Cunha

No último dia 07 de novembro, foi realizada na cidade de Niterói-RJ, no Palácio Legislativo, uma sessão solene em homenagem a Euclides da Cunha, a fim de marcar o centenário da morte de um dos mais importantes escritores da literatura nacional e fluminense.

A sessão foi aberta pelo presidente da Câmara de Niterói, Paulo Bagueira, e logo depois passou a ser presidida pelo coordenador do projeto 100 Anos Sem Euclides na UERJ, o Prof. Dr. Luiz Fernando Conde Sangenis, e contou com a participação de lideranças políticas, culturais e artísticas niteroienses. A Câmara de Niterói recebeu, ainda, a visita do presidente da Câmara de Vereadores de Cantagalo (cidade natal de Euclides), Ciro Fernandes Pinto, além dos vereadores Pedrão e Renata Huguenin, e do secretário de Turismo José Alberto Considera, também daquele município.

A Prof.a Anabelle Loivos (coordenadora do projeto na UFRJ) fez uma breve explanação sobre as ações do projeto 100 Anos Sem Euclides para a plateia, mostrando fotos e vídeos que resumiram o Ano Nacional de Euclides (2009). A seguir, o presidente da Academia Fluminense de Letras, Dr. Edmo Rodrigues Lutterbach, fez uma fotobiografia de Euclides da Cunha, desde a infância em Cantagalo até a sua trágica morte, em agosto de 1909.

O público presente foi brindado, ao final, com um belo espetáculo de poesia, organizado pela poeta Neide Barros Rego, a partir de de sonetos de Euclides da Cunha, trovas de autores cantagalenses e poemas do próprio orador da noite, Edmo Lutterbach. O representante da família de Euclides, Sr. Joel Bicalho Tostes, parabenizou o Projeto 100 Anos Sem Euclides e a Câmara Municipal de Niterói pela louvável iniciativa de homenagear Euclides da Cunha através de uma carta publicada aqui no blog. Seguem algumas fotos do evento:


O professor Luiz Fernando Conde Sangenis, coordenador do Projeto 100 anos sem Euclides

Da esquerda para a direita: Luiz Fernando Sangenis (UERJ), Ciro Fernandes Pinto (pres. Câmara Cantagalo), vereadores Renata Huguenin e Pedrão (Cantagalo) e Bebeto Considera (sec. Turismo Cantagalo).

A poeta Neide Barros Rego, declamando poesias de Euclides da Cunha.

O Dr. Edmo Rodrigues Lutterbach, importante Euclidianista Fluminense

Carta de Joel Bicalho Tostes


A Carta a seguir foi enviada por ocasião de uma sessão solene em homenagem ao escritor Euclides da Cunha na Câmara Municipal de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. A missiva foi escrita na cidade de Cabo Frio-RJ, onde vive este ilustre descendente do escritor.


"Cabo Frio Out - 2009

Exmo. Presidente da Câmara de Vereadores de Cantagalo

Ilustres Sr. Vereadores

Demais autoridades presentes

Senhores e senhoras

A família do autor de Os Sertões antevia que as comemorações dos `` 100 anos sem Euclides ´´ neste 2009 iriam acontecer, acreditando porém que isso sucederia mais em São Paulo e Rio de Janeiro, dada a vinculação profissional e amizade pessoal que o escritor, sempre, manteve nesses dois estados.

Todos porém tiveram esta bela surpresa: as homenagens foram muitas em diversas cidades brasileiras com relevo, valendo como demonstração ao talento do grande literato. Ao longo de tantas décadas, os brasileiros souberam avaliar com justiça Euclides da Cunha, bem como a dedicação do incansável patriota, escrevendo o que deveria ser escrito, mostrando à sociedade acertos e equívocos, apoiando - se para tanto naquilo que aprendeu e manteve vida afora: seguir sempre os ditames do que chamava de ``linha reta ´´, preservada e praticada por ele desde a adolescência.

Outro aspecto que distinguiria Euclides da Cunha: a sua fidelidade às pessoas as quais dava e recebia essa qualidade invejável - a Amizade.

Hoje, reúne-se nessa casa de leis uma plateia de pessoas honrando o ciclo encerrado nesta adorável e progressista Niterói, com chave de ouro, em tão invejável série de homenagens a Euclides da Cunha, pedindo seus familiares, a todos aqui presentes, que aceitem nossos cumprimentos mais sinceros.

Limitados por problemas de saúde, pedimos que a prezada amiga Dra . Anabelle fosse a portadora desta nossa manifestação.

Boa noite a todos.

Joel Bicalho Tostes."

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aviso importante do Seminário Internacional 100 anos sem Euclides


Atenção pesquisadores e apresentadores de trabalhos científicos do "Seminário Internacional 100 Anos Sem Euclides": saiu o ISBN do livro1 de resumos do congresso, para fins de registro em Currículo Lattes e similares. Anotem o número:

ISBN n.o 978857884-034-1.



1-O ISBN - International Standard Book Number - é um sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país, a editora, individualizando-os inclusive por edição. Utilizado também para identificar software, seu sistema numérico é convertido em código de barras, o que elimina barreiras lingüísticas e facilita a sua circulação e comercialização.

Cantagalo realiza IV Jogos Florais de Trovas em homenagem a Euclides da Cunha

Por iniciativa da trovadora cantagalense Ruth Farah, foram realizados, no dia 14 de novembro, na sede do FAC (Fraterno Auxílio Cristão), os IV Jogos Florais de Cantagalo. O concurso teve como tema “Sertão”, em homenagem ao centenário de morte de Euclides da Cunha, e contou com a participação de trovadores de todo o Brasil, além de contar com cinco trovas de Portugal.

Cada trovador, no momento em que ia receber seu prêmio, declamava seu trabalho, brindando o público presente com as rimas e belezas do sertão brasileiro. A quarta edição dos Jogos Florais, neste ano de 2009, é o segundo evento deste porte em homenagem a Euclides da Cunha em Cantagalo, já que, em setembro, dentro da programação do Seminário Internacional “100 Anos sem Euclides”, ocorreu o Concurso Internacional de Trovas, também sob a coordenação de Ruth Farah.

domingo, 15 de novembro de 2009

Ruth Farah lança livro sobre Os Sertões em Cantagalo


A escritora, poetiza e trovadora de Cantagalo, no Rio de Janeiro, Ruth Farah lançou o livro “Um pingo de Os Sertões”. A obra, de 50 páginas, serve como introdução para conhecer o livro vingador do escritor Euclides da Cunha. O objetivo da autora é que as pessoas passem a ter vontade de ler e conhecer Os Sertões. O livro é indicado tanto para adolescentes quanto adultos e profissionais da educação e pode ser adquirido com a própria autora.

Para contar uma pequena biografia de Euclides, o livro se divide em três partes e é recheado de trovas em homenagem ao famoso escritor, tanto de Ruth quanto de autores da cidade de cantagalo, no interior do estado do Rio de Janeiro, onde o escritor homenageado nasceu. Entre os trovadores que contribuíram para o Livro "Um pingo de Os Sertões” estão os premiadíssimos: Adalto Machado, Dirce Machado, Henny Krofp, Dilma Paula, Lafontaine Villela e Heloysio Teixeira, além da saudosa euclidianista Amélia Tomás, primeira diretora da Casa de Euclides da Cunha de Cantagalo.

Segundo Ruth Farah “Euclides em Os Sertões mostrou a realidade das lutas e opressões, passando a imortalidade...”

Ao publicar “Os Sertões”

Euclides ficou na história

Por despertar emoções

De Cantagalo é a glória!

Ruth Farah

No dia 14 de novembro ocorreu a quarta edição dos Jogos Florais de Cantagalo-RJ, sob a organização da Trovadora Ruth Farah. O tema do Concurso de trovas foi : Sertão, em homenagem ao Centenário de Morte de Euclides da Cunha.

Coletivo Teatral Sala Preta

Teatro de rua traz novas possibilidades de inter-ação pela arte

O Coletivo Teatral Sala Preta, que atuou no seminário internacional 100 anos sem Euclides, apresenta mais uma inovação

Ao realizar uma urbisfagia, uma ação coletiva de invasão da silhueta urbana entre grupos teatrais e agitadores culturais, o coletivo Teatral Sala Preta levou às ruas de Barra Mansa, no interior do estado do Rio de Janeiro, o teatro realizado durante os seus 10 meses de trabalho e de existência. Durante esse período, foram erguidos três espetáculos que já circularam pelo interior e a capital do estado do Rio de Janeiro, participando de eventos como a FLIP, Semana Euclides da Cunha da UFRJ, Projeto 100 anos sem Euclides em Cantagalo, Festival de Teatro de Resende e, em setembro, de um giro por quatro cidades do Equador.

TOMADA URBANA ATO I ocorreu entre 12 e 14 de novembro de 2009, na Praça da Liberdade, no município de Barra Mansa, com grande número de espectadores, e trouxe para a rua o teatro independente e que visa somente a interação com a cidade e com o público, a tão falada formação de platéia. Quem se forma é o artista em cena, celebrando, vibrando, entregando ao público sua arte, o espectador de rua, ele se trans-forma, transcende no seu papel de platéia, porque vivencia a obra, e isso é pra sempre.

No repertório do Coletivo estiveram as obras: "O Nordeste de Gonzagão", "O Cascudo Douradinho em: Amiga Lata, Amigo Rio" e "Cantos de Euclides" (que conta com a parceiria do ECFA - Espaço Cultural Francisco de Assis França, Grupo As Bastianas, Grupo CENA e atores convidados totalizando a partipação de 35 artistas e técnicos).

Para saber mais, o site do sala Preta é www.salapreta.wordpress.com

Euclides da Cunha: uma odisseia nos trópicos

Resenha do livro de Frederic Amory, publicado pela editora ateliê editorial.

Por Francisco Foot Hardmann

Este é um livro que já nasceu clássico. Primeiro, porque escrito por um brasilianista e euclidianista que frequentou profundamente os estudos da história, cultura e literatura do Brasil por quase 60 anos. Segundo, porque escrito num estilo equidistante tanto da cena narrada quanto das fontes da pesquisa, escorreito na forma e ponderado nos juízos críticos, sem prejuízo da interpretação pessoal de alguém que conheceu intimamente toda a obra do biografado. E mais: de alguém que dialogou com todas as biografias disponíveis de Euclides, do estudo pioneiro abrangente de Francisco Venancio Filho (1940) ao ensaio inconcluso de Roberto Ventura (2003), dos trabalhos de Elói Pontes (1938), Sylvio Rabello (1946), aos estudos mais temáticos e fundamentais de Olympio de Souza Andrade (1960) e de Leandro Tocantins (1968). Traça com todos esses antecessores interlocução permanente. O autor não é, pois, um novato, nem arroga qualquer autoproeminência. Fala sempre ancorado em textos, sejam os documentos, sejam os intérpretes que lhe antecedem. Por isso, sua narrativa sai com essa cara de vinho bem envelhecido. Os leitores têm só a ganhar, em sabor, mas igualmente em rigor.

Quando Frederic Amory faleceu, em janeiro passado, em Berkeley, cidade que esse bostoniano liberal radical adotara há pelo menos quatro décadas como morada, por conta de seu trabalho como professor de literatura medieval inglesa e especialista reconhecido em literaturas nórdicas (Islândia e Noruega) na Universidade de San Francisco, nós, seus amigos, repentinamente separados dessa alma que sabia se mostrar, sempre, tão generosa em sua altivez de aristocrata do espírito, pensamos: será que se repetirá, ainda uma vez, a “maldição” dos biógrafos de Euclides, relembrada anedoticamente por outro pranteado amigo – Roberto Ventura –, ali mesmo, em São José do Rio Pardo, na Semana Euclidiana de 2002, na terceira noite anterior à sua morte? Roberto referia-se ao caso de Luiz Vianna Filho, que não teria levado a termo projeto de biografia euclidiana, depois de ter escrito as de Machado de Assis e Rui Barbosa. Pensava também em Olympio de Souza Andrade, que deixara inédito o interessantíssimo ensaio Euclides da Cunha depois de Os sertões, até hoje a reclamar a devida publicação, como justo prolongamento e desfecho dessa obra-prima que é seu História e interpretação de Os sertões.

Mas, não. Euclides da Cunha: uma odisseia nos trópicos estava pronta. E foi assim, como lembra o colega e amigo Leo Bernucci no prefácio. Velho e doente há anos, Fred Amory sobreviveu, como tantos outros autores, apenas o bastante para concluir seu projeto de uma escrita que era uma vida. E deu. E nos deu um primor de narrativa, e um trabalho no fôlego mais distendido da melhor tradição acadêmica, livro que passa a integrar, com destaque, qualquer estante de estudos brasileiros e euclidianistas, qualquer seção de “como se fazer uma boa biografia”.

E se você, leitora, leitor, que tiveram paciência de me seguir até aqui, perguntarem de chofre: dê-me pelo menos três razões para adquirir e ler o livro de Amory, eu lhas darei. Ficarei com três, já que não posso dar dez, pois o editor do caderno ultima-me minutos e caracteres. Primeira razão: no rastro de alguns dos biógrafos old generation, Fred foi obsessivo, ambicioso: leu exaustivamente o conjunto da obra de Euclides e também sua fortuna crítica gigantesca, que só emparelha em extensão, na literatura brasileira, com a de Machado, atualizada até recentemente, com o boom notável de novas contribuições nessas duas décadas. Nasce daí uma visão abrangente e compreensiva do conjunto da obra e das principais linhas de interpretação. Basta dizer que, para além dos livros de Euclides, Amory debruçou-se sobre toda a sua ensaística jornalística dispersa e também sobre muita da poesia inédita, pois foi nosso companheiro de viagem, de Bernucci e meu, no projeto da Poesia reunida.

Segunda razão: movido por febre intelectual autêntica, isto é, alheia aos rituais burocráticos do ramerrão universitário, e por paixão permanente pelo Brasil, por suas histórias e culturas, Fred acumulou um saber admirável e próprio de grande brasilianista. Seu biografado não paira como mais um daqueles personagens da série “meu tipo inesquecível”, como sensação excêntrica, mas como homem de seu tempo, como cientista e artista atravessado pelas contradições da época. Estamos diante de uma biografia intelectual no melhor sentido da expressão. Ao perseguir as trilhas do grande escritor, depara-se com o mundo e o Brasil em transformação, nas complexas passagens do Oitocentos ao Novecentos.

Terceira razão: Amory, visitante regular do país desde o início da década de 50, aqui conheceu Rosaura Escobar, uma das filhas de Francisco Escobar, talvez o maior amigo e principal correspondente de Euclides. Ingressou assim cedo no círculo dos movimento euclidiano, participando desde logo das Semanas mitológicas em São José do Rio Pardo. Daí abriu-se um universo. Interagiu com Olímpio de Souza Andrade, Guilhermino César, Oswaldo Galotti, José Bicalho Tostes. Aproximou-se, ao longo do tempo, da memória de Euclides pelo lado pessoal, familiar, psicológico. Mas sua condição de estrangeiro preservou a distância e equilíbrio adequados.

Como nota em suas “Observações Finais”, citando Lord Acton, Fred aceitou o desafio de “julgar o melhor do talento e o pior do caráter”, mas sem cair na tentação de buscar “unidade artística no caráter”. No tumulto da vida, não há coerência. Por isso, ao contrário da busca da “linha reta”, lembra-nos dos “desvios visionários” de Euclides em suas noites amazônicas. Linhas sinuosas, sem lógica, como aquele traçado tão irregular do rio Purus na Carta que desenhou com afinco na grande viagem e que Amory, com sensibilidade, escolheu para encerrar essa sua tão bela narrativa.

E se ainda assim você permanece incrédula(o), e insiste: poderia um scholar de antigas sagas islandesas e norueguesas tratar tão bem de uma epopeia brasileira, tanto a obra quanto a vida de seu autor? Responderei: sim, perfeitamente. Pois na imperfeição das humanidades vividas nesses extremos geográficos e históricos, confluem, nas periferias do círculo polar ártico e do trópico semi-árido ou úmido, as escritas sem fim de homens em luta com a Terra e entre si. Fred, esse raro amigo, que rotulou seu arquivo de recortes, cartas e fotocópias mais valioso de “Meu Brasil”, sabia, como poucos de nós, os segredos dessa “solidão em sociedade” que fez de Euclides da Cunha um de nossos últimos românticos.

Porque tinha, como escriba, a dose certa de desprendimento própria da melhor vocação de pioneer, de explorador de qualquer vastidão, de qualquer Oeste. E nos legou esse belo ensaio biográfico, que certamente ficará. Ainda o vejo brilhar, em nossas gastronomias de Berkeley, com seu humor cáustico, sua curiosidade infantil, seu abraço acolhedor. Se é duro demais perder um amigo, é feliz o dia de celebrá-lo, em meio ao centenário da morte de Euclides, com essa odisseia, que viverá dos sopros da memória, da vida inteligente que lhe cruze os caminhos e, também, de um e outro sobressalto no coração.

Francisco Foot Hardman
é professor titular do programa de teoria e história literária da Unicamp e autor, entre outros, de A vingança da Hileia: Euclides da Cunha, a Amazônia e a literatura moderna (Editora Unesp)

A viagem poética de Euclides


Reunião inédita de 133 trabalhos apresenta visão de conjunto da produção em versos do escritor

Integrado aos eventos que lembram, em 2009, os cem anos da morte de um dos maiores escritores brasileiros, a Editora Unesp lançou, em 15 de outubro, na Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha, o livro Euclides da Cunha: poesia reunida. A edição comemorativa oferece pela primeira vez uma visão de conjunto do acervo poético do autor de Os sertões, grande parte inédito.

Organizado por Leopoldo M. Bernucci, professor de Literatura Latino-Americana da Universidade da Califórnia, e Francisco Foot Hardman, da Unicamp, o volume mostra como a poesia de Euclides apresenta repúdio à escravidão negra, utopia revolucionária republicana, metafísica do eu, angústia da vida humana desgarrada da religião, desejo de morte e de glória, panteísmo e anticlericalismo.

Também se caracteriza por denúncia da miséria social, militância antimonarquista, patriotismo acentuado, desejo de representar os principais momentos da história geral e nacional, amor à natureza, elogio da vida no campo e repulsa à cidade.

Antologia de Bandeira – Dois textos, “Mundos extintos” e “Se acaso uma alma se fotografasse”, foram escolhidos, em 1946, por Manuel Bandeira para integrar a sua Antologia de poetas bissextos brasileiros contemporâneos. Mas, geralmente, a poesia de Euclides saiu esparsamente, antes e depois da morte do seu autor, em publicações hoje de difícil acesso ou manuseio, mal citada, defeituosamente transcrita e editada.

A presente edição traz 133 poemas, sendo 78 pertencentes ao caderno manuscrito Ondas; 20 poemas dispersos e 12 postais, além de 15 variantes principais e oito secundárias. Até agora, a maior reunião de poemas de Euclides não atingia os 40 textos.

A obra cobre quase trinta anos da vida do autor (1883-1909). Há sonetos, odes, versos heroicos, épicos, dramáticos, líricos e versos rimados ou brancos escritos em cartões, bilhetes postais ou em retratos dele próprio.

O caderno Ondas (1883/84) traz também 13 notas do próprio poeta, 12 em folhas separadas e uma de rodapé para um único poema, “No túmulo de um inglês...”. Geralmente, cada poema traz a data de composição e a assinatura do autor, que oscila entre Euclydes, Euclydes da Cunha e Euclydes Cunha.

Em postais – Os poemas reunidos como Dispersos (1885/1909) trazem pelo menos quatro inéditos em livros, além de dois jamais publicados sob nenhuma forma impressa. Em Poesia postal (1902/1906), estão textos rascunhados em cadernos ou em folhas avulsas manuscritas – não se sabendo ao certo se foram expedidos – em blue prints, técnica de reprodução fotográfica muito em voga na época, cartões ou bilhetes postais.

Destacam-se os postais coloridos sobre a viagem de Euclides à Amazônia. Escritos entre dezembro de 1904 e fevereiro de 1905, são endereçados para vários amigos. Do mencionado soneto “Se acaso uma alma se fotografasse”, Bernucci e Hardman levantaram quatro diferentes variantes.

Elas foram enviadas a distintos destinatários, fazendo supor que esse número tenha sido ainda maior, pois Euclides se dedicou a manuscrevê-lo, alterando-o, sempre sobre as mesmas reproduções de uma fotografia do grupo expedicionário ao Alto Purus.

O volume é de grande importância por motivar uma melhor análise da complexa transição do romantismo ao modernismo no Brasil, entre as duas últimas décadas do século XIX e a primeira década do século XX. Propicia também uma visão mais completa de Os sertões, um dos mais importantes livros da literatura nacional.

Oscar D’Ambrosio

Palácio Euclides da Cunha


A cidade de Niterói realizou, no começo do mês de novembro de 2009, ano do centenário de morte do escritor Euclides da Cunha, sessão solene em sua homenagem, na câmara Municipal. Porém, o município já há muito vem guardando uma homenagem mais duradoura em seu seio: o palácio Euclides da Cunha, situado em seu horto botânico. O prédio imponente serviu a diversas atividades desde que passou a fazer parte do patrimônio público, abrigando instituições voltadas ao meio ambiente, como a Escola Superior de Agricultura e Veterinária, a primeira do tipo no país.

Em 1942, por ocasião do IV centenário de Niterói, o palácio recebeu o nome de Euclides da Cunha como homenagem ao escritor, e diante de si foi instalado o jardim zoológico da cidade. O edifício foi, ainda, palco de relevantes pesquisas científicas, como a da fabricação da vacina contra a varíola e a da aplicação do álcool como combustível em motores e máquinas agrícolas.


Por sua importância histórica, arquitetônica e ambiental, a construção foi tombada pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural - INEPAC, em 15 de setembro de 1991, através do processo E-12/393/91, eternizando assim o nome de Euclides da Cunha em um dos mais importantes e belos pontos turísticos de Niterói.

Fonte: livro "Niterói Patrimônio Cultural", editado pela SMC/Niterói Livros em 2000.

A eternidade de Euclydes da Cunha tem edição lançada em Niterói



O livro do eucliadinista Edmo Rodrigues Lutterbach, foi lançado em Niterói, na famosa Livraria Ideal, do livreito Carlos Mônaco.


Edmo Rodrigues Lutterbach nasceu para escrever sobre Euclides da Cunha como Paganini para tocar violino". A conclusão de José Cândido de Carvalho, o grande contista e romancista campista, foi publicada no jornal O Fluminense, em 29 de maio de 1988, logo após o lançamento do livro A eternidade de Euclydes da Cunha. A obra, que reunia dois ensaios do presidente da Academia Fluminense de Letras, foi acrescida de mais um texto de Edmo Lutterbach e ganhou a sua segunda edição, pela Nitpress, num tributo ao centenário de morte de Euclydes (Euclydes de ipsilon, como faz questão o autor, num retorno à grafia original do nome do grande escritor fluminense, que passo também a acatar). O lançamento ocorreu no sábado, dia 14 de novembro, no Calçadão da Cultura da Livraria Ideal (Rua Visconde de Itaboraí, 222, Centro, Niterói).

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ponto de Cultura será desafio do Projeto


O Projeto 100 anos sem Euclides dará um novo passo após a realização com sucesso de seu Seminário Internacional, em setembro de 2009: a partir de agora o foco do projeto será o Ponto de Cultura Os Serões de seu Euclides, a ser instalado na cidade de Cantagalo, no interior do estado do Rio de Janeiro. A iniciativa da professora-doutora Anabelle Loivos recebe apoio de diversos setores sociais do município de Cantagalo e promete ser um farol de ampliação da cultura e da cidadania entre a população, especialmente entre os jovens.

Com o Ponto de Cultura "Os Serões do Seu Euclides"(*) pretende-se resgatar a memória euclidiana e ressaltar o patrimônio material e imaterial que a obra do escritor faz circular, em manifestações artístico-culturais e ações interdisciplinares. Para tanto, serão três anos de vigência, sob os auspícios de verba pública específica, podendo ser prorrogado o prazo de vigência de acordo com o sucesso de implementação das ações ou, até mesmo, mantendo-se o Ponto de Cultura de forma autossustentável.

A maior parte das atividades do Ponto de Cultura ocorrerão em um centro cultural já existente na cidade de Cantagalo, a Casa de Euclides da Cunha (Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro/FUNARJ), que receberá (via Edital MinC-SEC/RJ) investimentos para informatização e equipamentos que viabilizem o funcionamento das diversas vertentes do Ponto de Cultura – como um cineclube, apresentações de saraus lítero-musicais, centro de documentação e memória, cursos de extensão, manutenção de espaço virtual na internet e oficinas de jornalismo e histórias em quadrinhos.

O desafio do Projeto encontra-se na proposta de formar novas gerações com um sentimento de pertencimento à comunidade, através da história e da memória de outros cidadãos do município de Cantagalo que marcaram seu tempo, como a figura emblemática de Euclides da Cunha.

(*)Entendendo serões na sinonímia "festiva" dos saraus poéticos e como trocadilho que referencia uma das maiores obras literárias brasileiras, Os sertões, de Euclides da Cunha.

Cantagalo homenageia projeto


O poder legislativo da cidade de Cantagalo, no interior do estado do Rio de Janeiro, dedicou uma moção de parabenização aos professores Anabelle Loivos Considera Conde Sangenis e Luiz Fernando Conde Sangenis, coordenadores do Projeto 100 anos sem Euclides. A moção foi apresentada pelos vereadores Ciro Fernandes e Renata Huguenin.

Os homenageados foram destacados pelos serviços prestados à cultura da população, através do Seminário Internacional 100 anos sem Euclides, ocorrido em setembro de 2009 na cidade, e também pelos projetos culturais que se seguirão ao evento, como a instalação de um ponto de cultura no município, entre outras ações.

Além disso, os professores Anabelle Loivos e Luiz Fernando foram mencionados por sua carreiras voltadas para educação, ambos lecionam em faculdades de formação de professores, e por terem a preocupação em destacar o nome do nobre escritor Euclides da Cunha na história e na cultura da cidade de Cantagalo, onde o mesmo nasceu, e no Brasil.

Câmara terá sessão solene sobre Euclides


A Câmara Municipal da cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, realizará uma sessão solene em homenagem ao escritor Euclides da Cunha, para marcar o Ano do Centenário de sua Morte. A mesa será composta por vereadores do município e presidida pelo presidente atual, Sr. Paulo Roberto de Mattos Bagueira Leal.
O Projeto 100 Anos Sem Euclides foi convidado para participar da sessão, apresentando as ações que desenvolveu durante o Ano Nacional de Euclides da Cunha (2009). Também o Dr. Edmo Lutterbach, membro do Conselho Consultivo do projeto, discorrerá sobre uma fotobiografia de Euclides da Cunha. O evento terá culminância com um recital de poesias de Euclides da Cunha e de poetas flumineneses que versaram sobre o ilustre cantagalense autor de "Os Sertões", organizado pela poeta Neide Barros Rêgo.
A sessão solene tem entrada franca e acontecerá no dia 09-11-2009, a partir de 19h, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Niterói.
Endereço: Av. Ernani do Amaral Peixoto nº 625, Centro, Niterói, RJ - CEP: 24020-073 - Tel: (21) 3716-8600.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

MAM - Cinema: A PAZ É DOURADA

O Cineclube Cinead, do museu de arte moderna do Rio de Janeiro, o MAM, homenageará Euclides da Cunha no ano do centenário de sua morte com o longa-metragem A Paz é Dourada, de Noilton Nunes. A apresentação acontecerá nesta quinta-feira, dia 05 de novembro, às 18h30, na sede do MAM. Após a exibição haverá um debate com o cineasta.

O longa metragem A Paz é Dourada é um filme inspirado na vida e obra do escritor Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, livro sobre a guerra de Canudos, evento ocorrido no final do século XIX no interior da Bahia. A obra se tornou um clássico da literatura em língua portuguesa.

O filme destaca os pensamentos pacifistas e ecológicos de Euclides com proposta clara de participação positiva no movimento internacional pela Cultura da Paz e do entendimento entre os povos. Iniciado em 1986 com as primeiras cenas rodadas em 35mm na cidade de São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, onde Euclides escreveu Os Sertões, o filme A Paz é Dourada somente pode ser concluído em 2007, através da mudança na proposta do roteiro, concebido inicialmente para ser um filme 100% ficção. O próprio processo de sua realização foi então incorporado ao filme tornando-se um dos fios condutores da narrativa.

Euclides, consagrado pelo sucesso de Os Sertões, foi convidado pelo Barão do Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, para chefiar uma expedição ao Alto Rio Purus, no Acre com o objetivo de demarcar nossas fronteiras amazônicas e evitar uma guerra com o Peru por causa da borracha.

A sessão com o filme acontecerá na quinta-feira, dia 05/11/2009 às 18:30h. A Cinemateca do MAM fica na Avenida Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo, Rio de Janeiro.